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Zoo - Cartas não sobre o amor

PROJETO GRÁFICO PARA TEXTO 
“ZÔO – OU CARTAS NÃO SOBRE O AMOR” 
DE VICTOR CHKLOVSKI


Durante anos a fio, o escritor russo Victor Chklovski escreveu cartas de amor para sua colega Elsa Triolet (rebatizada, no livro, de Alya). Ambos russos exilados no estrangeiro, ambos tímidos e solitários, são separados justamente por suas semelhanças: Elsa rejeita e só aceita suas cartas sob condição de não falarem de amor.

Decidido a publicar as cartas, Victor mistura vida e ficção, forma e conteúdo. Sob o título “Zoo, ou cartas não sobre o amor”, expõem de modo exemplar seu conceito de “estranhamento”, ao definir o amor por alusões, metáforas, ironias.

O livro é composto por 34 cartas reais e fictícias. Trata-se de um romance documentário onde o autor aplica o conceito de estranhamento ao texto por meio de digressões, metáforas e alusões e pelo grande contrastes de assuntos abordados lado a lado.

segundo Chklovski, ESTRANHAMENTO ou SINGULARIZAÇÃO é o procedimento da arte. Tal procedimento consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da 
percepção. Também pode ser entendido como o ato de deslocar um elemento de seu contexto para fazer com que seja percebido por meio da sua ausência. Neste caso, a
 impossibilidade de amar é a impossibilidade de escrever, a ausência revela a essência.


Aplicar conceito de estranhamento ao projeto gráfico editorial.
Para este projeto o estranhamento é obtido pela forma diferenciada de cada carta que compõe o livro. Foi decidido que as cartas teriam tamanhos diferentes e número de dobras de acordo com o seu conteúdo e volume de texto.

Para isso foi determinado um grid (grade) que delimita os tamanhos que podem ser aplicados às cartas. Para isso foi levado em consideração o aproveitamento de papel e o tamanho da folha utilizada na impressão.

A encadernação escolhida, devido aos desafios técnicos de juntar páginas de diferentes tamanhos e dobras, foi a concertina. Uma sanfona em papel vermelho foi confeccionada e posteriormente nela foram coladas as páginas do livro.


A capa entretela foi feita em cartão e tecido laminado ambos na cor preta. O título do livro foi impresso com verniz reserva brilhante em serigrafia. O contraste de materiais foi pensado para ser condizente com o próprio conteúdo do livro.


Todas as cartas do livro possuem uma numeração e um prefácio que as introduzem e que ajudam a traduzir o pensamento e a intenção do autor. O projeto gráfico foi pensado para destacar estas características do texto e obter uma unidade visual entre as cartas. Por isso foi decidido começar cada carta com uma página de numeração seguida por uma página com o prefácio da carta. Só então, o leitor tem acesso ao conteúdo da carta, oculto pelas dobras. 


A sequencia de abertura de uma carta do livro:


Frente e verso da carta número nº 7.


Cores e tipografia
As cores remetem ao movimento Construtivista (branco, preto e vermelho) e à bandeira da Rússia (azul) e à da Alemanha (amarelo).

A escolha pela família tipográfica também foi feita pelo contexto histórico do livro. A Akzidenz-Grotesk é uma família tipográfica sem serifa originalmente lançada pela Berthold Type Foundry de Berlim, no final do século XIX pertencente a uma tradição de tipos sem serifa e sem adornos que se tornaram dominantes na impressão alemã daquele período. Relativamente pouco conhecido por meio século após sua introdução, alcançou status de ícone no período pós-guerra como o tipo de letra preferido de muitos designers gráficos suíços, tornando-a popular em todo o mundo ocidental nas décadas de 1950 e 1960. Seu design simples e neutro também influenciou o desenho de muitas outras famílias tipográficas posteriores. 

O nome "Akzidenz" indica seu uso pretendido como tipo de letra para tiragens comerciais (publicidade, bilhetes e formulários) em oposição à impressão fina. Já o termo "grotesco" era um nome padrão para tipos de letra sem serifa na época.

Para as cartas de Alya foi escolhida a fonte com caráter europeu e humanista, em oposição ao estilo industrial e funcionalista da Akzidenz. A Minion é uma fonte serifada inspirada nos tipos do final da era renascentista, clássica, embora ligeiramente condensada, possui proporções mais finas que os tipos humanistas e grandes aberturas para aumentar a legibilidade. A feminilidade é representado pelo uso do estilo itálico.

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Um estudo mais profundo sobre o livro relevou vários fatores extra-literários que influenciaram na confecção da obra. Nesta época Chklovski estava exilado em Berlim, devido a adversidades políticas que enfrentava na Rússia, em um bairro próximo ao zoológico da cidade. É justamente esta condição de exílio a maior motivação para a criação deste livro. 

A pesquisa histórica também tinha o objetivo de relacionar a obra com o estilo de design gráfico produzido na época em que foi escrita. Esta pesquisa revelou a ligação do livro com a estética das vanguardas artísticas, principalmente com o Construtivismo Russo. 

Partindo disso, outras conexões começam a ficar mais claras e visíveis, como a ligação de “Zôo” com o poema “Isto” de Maiakovski, que foi ilustrado inteiramente com fotomontagens e projetado por Alexandr Rodchenko. Estas duas obras têm muito em comum, ambas foram escritas em Berlim, entre os anos de 1922 e 1923, e resultam de relacionamentos amorosos de difícil realização, e, além disso, as mulheres para quem se destinam essas obras são irmãs.

Por estas razões optou-se por ilustrar o livro com fotomontagens em estilo construtivista. Todas as fotografias foram retiradas de revistas e livros antigos comprados em sebos. As formas geométricas e cortes aplicados às fotografias remetem aos materiais gráficos do movimento Construtivista Russo. 


Para a divulgação do livro foi criado um conjunto de cartões-postais impressos com algumas ilustrações e trechos do livro.


Um invólucro de proteção feito em papel translúcido foi usada para embalar os exemplares de alguns livros. Para o fechamento foi usado um adesivo vermelho com o título (logo) do livro impresso.


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