English
This was my high school graduation project, and probably the most important so far in my career. The Artistic Aptitude Test was the result of a partnership with the Educational Service of the Berardo Collection Museum. Based on the theme "The Work of Art as a Place of Performance", proposals were developed for performative moments based on one of the works in the museum's permanent collection. "Lit Window" by Patrick Caulfield (1969) was the work I selected, as it 
is a piece that I find extremely evocative, both in terms of its appearance and the way 
I interpreted it.

“I tried to question the relationship between the work and the viewer, considering the multiple readings and interpretations that the spectator can construct from the painting, a process that I intend to keep alive in the performative moment that is being proposed.”   

A shadow theater show was then proposed, which would be presented exclusively at night, on one of the terraces of the Centro Cultural de Belém, by two identical actors playing a single character. Much of the action takes place behind a projection plane designed by me. It materializes in a painted wooden structure with translucent fabrics 
in shades of red and orange and there are two objects in black behind the plane, a pot with a plant and a lamp, both two-dimensional. 
In this project, whose performative moment is named “Lá, do lado de cá”, I tried to express the thoughts and sensations I had when observing Caulfield’s work.

Português
Em parceria com o Serviço Educativo do Museu Coleção Berardo e no âmbito da Formação em Contexto de Trabalho, a partir do tema “A Obra de Arte Como Lugar do Espetáculo” foi proposto o desenvolvimento de propostas para momentos performativos, a partir de uma das obras da coleção permanente do museu, assim como a concretização de um dos elementos plásticos (cenografia, figurinos e adereços). Os momentos performativos foram concebidos para serem apresentados em espaços do Centro Cultural de Belém. 

A partir de várias visitas feitas ao museu, foi realizada uma seleção prévia e após uma certa análise, foram escolhidas três obras: “Study for a Homage to the Square - “Blond Autumn” do Josef Albers, 1964 “Dog Food'' de Gudmundur Erró, 1964 e “Lit Window” do artista Patrick Caulfield, 1969. Posteriormente foi feita uma pesquisa sobre os três autores e as suas respectivas obras. No decorrer da pesquisa realizada, o mistério por detrás da obra “Lit Window” foi o motivo que levou a que a mesma fosse selecionada como ponto de partida para o desenvolvimento da proposta. O quadro apresenta a perspetiva de uma janela, e no seu interior uma divisão, dentro dela observa-se uma única elipse de luz artificial amarela num candeeiro vermelho suspenso numa sala com um brilho vermelho e quente uniformemente disperso pelas paredes e teto como uma camada plana de cor. A janela encontra-se bloqueada por uma estrutura que penso ser metálica.

A análise de “Lit Window” levou à conclusão de que existe uma exclusão do espectador por parte do quadro, e que o mesmo coloca o público a pensar sobre o que pode estar a acontecer naquela divisão que não é visível. Foi então que se realizou uma pesquisa sobre a ligação que existe entre o dentro e o fora de algo, refletindo assim sobre como seria possível ligá-los de variadas formas. Procurou-se também como é que se iria passar o pensamento criativo que o espectador tem quando observa a obra para o momento performativo - que a ação cénica obrigasse o público a pensar sobre o que poderia estar a acontecer, partindo da ideia de que no vazio tudo pode acontecer, ao invés de, no vazio nada acontece. 

No decorrer desta pesquisa, encontrou-se o poema “Casa branca, Nau preta” de Álvaro de Campos e em particular aos versos (...) Não poder eu coexistir para o lado de lá / com estar-vos vendo do lado de cá (...) onde o eu lírico se coloca diante de uma janela, dentro de um aposento mas as imagens que vê, ou vislumbra, fazem-no desejar estar simultaneamente de ambos os lados - dentro e fora. 

A pesquisa formal começou por concentrar-se sobretudo na passagem do quadro para a tridimensionalidade, criando divisões que nos remetessem para o quadro. Após verificar-se que estas propostas não fariam sentido, realizaram-se então ideias que envolvessem acontecimentos por detrás de planos, criando assim efeitos de sombras com a ajuda da luz, pois o facto da interpretação que se obteve da obra passar a ideia de que o vermelho é uma camada plana de cor, levou a ideias em que esta camada plana de cor passaria a um plano tridimensional e consecutivamente tudo o que está dentro dessa divisão vermelha a preto (como o candeeiro e a pequena folhagem) passariam a ser uma sombra atrás deste plano, não passando estes elementos para a tridimensionalidade.

Foi então que imaginou-se que o momento performativo fosse um espetáculo de teatro de sombras, a ser realizado única e exclusivamente durante a noite e num dos terraços do Centro Cultural de Belém, por dois atores idênticos, para dar a sensação de serem a mesma pessoa. O público estaria sentado no exterior em frente ao espaço, virado lateralmente para uma das janelas do pátio. No interior da janela uma luz direcionada para o exterior, permitiria a criação de sombras projetadas de um dos atores no pavimento do pátio. A luz interior apagar-se-ia, e surgiria o segundo ator no exterior, através das escadas existentes. Entraria numa divisão apenas definida por um plano com quadrados e retângulos de variados tamanhos e tonalidades de vermelho e por espaços vazios. 

Optei assim por realizar o adereço que será o plano, este materializa-se numa estrutura com a forma de um quadrado de 2x2m, feita a partir de prumos de madeira aparelhada, unidos através de cantos de metal e parafusos, com um acabamento de pintura a preto. Na estrutura, foram, posteriormente, feitos furos na sua parte interior para a fixação de sete tubos de ferros, também pintados à cor preta. Colocados nestes tubos estão um conjunto de quatro tecidos. Estes tecidos apresentam diferentes transparências e tonalidades para ser mais percetível o que acontece nas zonas mais transparentes e o oposto nas mais opacas, será também, para demonstrar um jogo de sobreposições onde seja notável a geometrização da obra. Os tecidos têm tonalidades dentro do vermelho alaranjado, perto do que se encontra no quadro.

Nesta divisão existirá também uma planta e um candeeiro representando, com as quais o ator iniciaria a ação cénica, criando assim a alusão de estar no espaço interior. Estes são feitos em PVC e pintados a preto. O figurino do performer será uma roupa casual preta, sem brilho, de forma a criar ainda mais contraste com os tecidos da estrutura e para aludir também ao preto da obra. O público apenas veria a sombra do performer projetada no plano. Os movimentos interpretados pelo ator e toda a narrativa não seriam precisos, de forma a permitir que cada espectador tenha a sua própria interpretação da ação - tal como Patrick Caulfield, fez em “Lit Window”.

Concluindo assim, na proposta e objeto que apresento, procuro expressar os pensamentos e sensações que tive quando observei a obra de Caulfield. Espero que o mesmo aconteça ao público quando a assistir a “Lá, do lado de cá”, e que este pense sobre o que pode estar a acontecer, e construa no seu imaginário, algo, partindo da ideia de que estão a viver o momento do lado de lá, mas do lado de cá.
Lá do Lado de Cá
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