Juliane Bauer's profile

O abacaxi não vai conseguir tampar esse buraco

O abacaxi não vai conseguir tampar esse buraco

Quando era pequena escutava que para tirar foto era preciso dizer “olha o abacaxi”, nunca entendi o conceito dessa frase, só lembro que ela se referia a dar um sorriso. Desde aquela época sinto uma pressão para aparentar estar feliz, porque era considerado feio chorar e demonstrar que estava triste, ora, onde já se viu uma criança querer ficar quieta em seu canto e apenas não querer ficar correndo o dia todo? Até hoje, quando meus pais me veem chorando é como se eles tivessem falhado na tarefa de pais, ficam preocupados achando que sua missão é me salvar de alguma coisa. Toda vez que choro me sinto culpada de ter aquele sentimento ruim, penso que tem tantos motivos para rir e não entendo porque eu preciso chorar, parece que eu sou ingrata à vida que tenho e que tem pessoas em situações muito piores que a minha, é como se eu considerasse meus sentimentos bobos e minha tristeza como algo imperdoável.

De vez em quando, vejo amigos me relatando o quanto estavam tristes, bravos ou desanimados em determinado momento, mas que não me falaram nada para não estragar meu dia. Entretanto, não hesitam em me contar quando estão felizes, animados ou realizados. Talvez podemos considerar que cada um tem duas personalidades dentro de uma pessoa só: a feliz e a triste. A feliz seria aquela que todo mundo ao seu redor vê: a que ri de todas as piadas, que dança e canta a música favorita a plenos pulmões e que mostra o quanto aquilo que está fazendo aumenta seu humor. A triste seria a personalidade que poucos teriam chance de ver, que chora quando o que mais deseja não acontece e que se fecha em seu próprio mundo quando vê que nada está dando certo. Só que, será que aquele que chamamos de feliz, às vezes, não está apenas demonstrando uma falsa felicidade para que sua tristeza não seja vista?

Por que as pessoas fingem que o importante é estar feliz 100% do tempo? Foi algo que me perguntei quando descobri que vários amigos sofriam de depressão e eu não conseguia entender como, já que eles sempre estavam rindo, fazendo brincadeiras e mostrando como momentos de alegria era prazeroso para eles. Eu não sabia que podia acontecer de eles estarem demonstrando apenas uma pequena porcentagem de quem eram para mim, eu não assimilava que aqueles momentos de demostrar felicidade era uma força enorme que eles estavam fazendo, eu não compreendia que alguém estar com depressão não significava estar triste o tempo todo. A realidade era que eles tinham uma doença que afetava seu jeito de viver e que tinham medo de contar que sofriam com ela justamente por causa dessa noção que a sociedade tende acreditar que não se pode demostrar sentimentos ruins. 

Talvez para alguns demostrar tristeza seria mostrar que se é uma pessoa vulnerável e ser vista como fraca pode ser considerado um sentimento negativo, em que o ser humano só seria uma pessoa com sucesso na vida ao ser forte, conforme acontece quando alguém não passa no vestibular e sente que se falar que está triste com o resultado é errado e que o certo é falar que ano que vem tem de novo, sendo que sua vontade real era desistir. Quem sabe essa questão de aparentar ser o que não é, seja apenas um jeito de se encaixar nos moldes de uma sociedade ou se sentir incluído em um meio por estar agindo que nem a maioria, como o que acontece com as redes sociais em que muitos postam fotos sorrindo e precisam mostrar a cada lugar que vão a fim de aparentar uma vida perfeita. Ás vezes, a pressão da sociedade para sermos felizes o tempo todo seja o medo de encontrar buracos muito grandes dentro da alma que um simples sorriso não vai conseguir tampar.
O abacaxi não vai conseguir tampar esse buraco
Published:

Owner

O abacaxi não vai conseguir tampar esse buraco

Published: