03 de Novembro de 2015

 

No novo programa 'Bipolar Show', o ator, autor e diretor está bem longe do anjo Ariel, da novela 'Além do Tempo': ele bebe, fuma, corta os pulsos e faz de tudo para mostrar a multipolaridade de seus entrevistados

Declamação de poemas, perguntas telepáticas, choro, suicídios encenados, pedidos de casamento, tiros de festim, beijos (muitos beijos) e até entrevistas. Estes são todos elementos de "Bipolar Show", um não-programa de entrevista que estreia domingo, às 21h, no Canal Brasil. Para descrever seu apresentador, Michel Melamed, 42, também é preciso recorrer a listas: o ator, autor e diretor está no ar em "Além do Tempo" como o anjo Ariel, tem um novo livro a caminho, "Obras Compétalas", da Bertrand Brasil, e vai aparecer em 2016 na nova minissérie de Luiz Fernando Carvalho, "Dois Irmãos".

 

Até que ponto 'bipolar' define sua personalidade?

 

Sou zero bipolar. Sou multipolar. É uma brincadeira a ideia de bipolarização. O programa aceita todas as interpretações. No Brasil, as pessoas têm brincado de achar que as coisas são polarizadas, são binárias. Eu acho que não são. A riqueza está nos mil matizes. Tem muitos humores possíveis, e todos os humores me interessam.

 

Nas eleições do ano passado, se falou muito sobre uma polarização na política.

 

Não enxergo isso. Não só é improdutivo como falacioso. O Brasil não é dividido entre petralhas e coxinhas. A valorização da diferença é importante. Essa simplificação serve a extremistas. Tem pessoas que tentam colocar o país dentro desse modelo precário, irreal. O Brasil é milhões de Brasis, cada brasileiro tem um olhar muito rico. A realidade é mais complexa, não há uma infantilização.

 

O resultado de cada 'Bipolar Show' depende muito do entrevistado. Como é feita a escolha dos convidados?

 

Tudo na vida é em função de como se dá o encontro. O convidado do programa tem que se disponibilizar para o encontro. A ideia é ter intimidade. Se eu conhecer a pessoa naquele dia, temos que ser o que acontecer. Temos que estar abertos um ao outro.

 

Você e o convidado seguem um roteiro ou ensaiam algo?

 

Não posso te responder isso. É a graça do programa. Quero que as pessoas fiquem em dúvida sobre o que é realidade e o que é ficção. Vou deixar nesse lusco-fusco. Entre outras coisas, o programa é performance. Tem muito de TV, teatro, , perfomance, um monte de linguagens.

 

Essa é uma característica de muitos dos seus trabalhos.

 

Exato. O que me interessa é linguagem. O que me interessa é mudar o mundo. A primeira maneira como posso mudar o mundo. Disso para as linguagens propriamente artísticas. Pra mim, todos meus trabalhos fazem um sentido.

 

O momento 'beijo na boca' dos convidados (como Alexandre Nero e Mateus Solano) tem sido o mais comentado nas redes sociais. A intenção é chocar?

 

Chocar, jamais. O beijo tem alguns pontos - primeiro, aquilo é cena, feita entre dois artistas. Segundo, é um gesto de amor. Todos são amigos por quem eu tenho uma profunda admiração. Terceiro, é um ato político. Principalmente nesse momento em que há muitas expressões de intolerância, devemos ter expressões de tolerância.

 

Seus tweets parecem minipoemas. Para você, tuitar é uma forma de arte?

 

Acho que tudo na vida é uma forma de expressão de arte. Podemos passar o café com alguma expressão de arte. Espero que essa entrevista também saia como uma expressão de arte. Pontualmente, acho que são poemas, haikais, trocadilhos, pensatas, frases curtas que farão um livro. As frases vão sair pela editora Bertrand como "Obras Compétalas".

 

Como é equilibrar seu traba-lho autoral com o da novela?

 

Não acho que meu trabalho autoral seja diferente do da novela. A novela é uma expressão muito artística, muito experimental. Eu presenciei momentos de extrema densidade artística lá. A linguagem não tem um valor intrínseco. Depende de que filme, que peça, que novela.

Disponível em: http://www.destakjornal.com.br/noticias/figura/o-que-me-interessa-e-linguagem-e-mudar-o-mundo-286834/