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100 Years of Bauhaus

As ideias da Bauhaus no Brasil
Alexander Altberg

Ex-frequentador da Bauhaus justamente no momento em que a escola fazia a tensa transição de Weimar para Dessau, Alexander Altberg foi um dos responsáveis pela transmissão de algumas das conquistas das vanguardas alemãs para a arquitetura brasileira.
Altberg, acostumado às dezenas de publicações na Alemanha, decide iniciar em 1933 uma revista própria, que recebe o nome de “base – revista de arte, técnica e pensamento“. Foi Alexander Altberg o principal responsável pela pioneira iniciativa da Revista base. Ele foi ao mesmo tempo seu editor, financiador, designer gráfico, ilustrador, autor, “curador“ de textos e – por motivo de redução de custos – até mesmo tipógrafo. Montando letra por letra todas as matérias e anúncios, Alexandre usa esta oportunidade para impulsionar a revitalização das Artes Gráficas daquele período: utilizando-se somente da letra miníscula, ele literalmente “constrói“ blocos de texto, exagerando nos espaçamentos, quando necessário. Os textos são apresentados com, alternadamente, dois tipos de letra, em interação com barras e imagens em preto e branco. Por motivo de custos, ele utiliza uma só cor primária contrastante para confeccionar a capa e acentuar conteúdos.
Utilizando-se dos contatos obtidos através da PRÓ-ARTE, Altberg convida diversos autores dos círculos modernistas a contribuir à revista. No primeiro número, bem comenta Lélia Coelho Frota: “o artigo que segue à abertura editorial (de autoria de Altberg), assinado m.d.a. (Mário de Andrade ) constitui na verdade a proposta conceitual da revista, que vale a pena citar mais extensamente, pelo seu ineditismo: 'Hoje a Arte quer penetrar nos escaninhos mais ásperos da vida coletiva; entra nos laboratórios, nos hospitais, nas fábricas, nunca se fez tanta arte no mundo, e jamais os problemas dela, não apenas puramente de ordem estética, mas problemas científicos, tecnológicos, étnicos, sociológicos, preocupam tanto a humanidade'“.

Encontramos na base artigos sobre literatura, música, ballet, fotografia, lançamentos, textos críticos diversos. Dentre os anúncios de exposições de Artes Plásticas, encontramos as de Di Cavalcanti, Portinari, Segall, ou mesmo de Käthe Kollwitz. Com resenhas, anuncia-se a publicação de “Cacau“ de Jorge Amado, “Serafim Ponte grande“ de Oswald de Andrade, ou “Evolução Política do Brasil“ de Caio Prado Jr. São também publicadas traduções de textos estrangeiros, selecionados por Altberg, traduzidos com o apoio de colegas da PRÓ-ARTE e de alguns outros jovens entusiastas como João Lourenço da Silva e Alcides Rocha Miranda, com destaque para relatórios sobre os CIAM. Nos números 1 e 2, encontramos matéria sobre a Triennale di Milano de 1933, acompanhada de muitas fotos. Curiosamente, é relativamente rarefeita a apresentação de obras de Arquitetura Moderna Brasileira, que naquele momento ainda eram poucas. Dando sequência às suas breves atividades junto ao “Coletivo para a Construção Socialista“ em Berlim, Altberg publica notas sobre os CIAM, enfatizando as temáticas de Frankfurt (1929), cujo foco era o “lar para a existência mínima“ e Bruxelas (1930) e dá destaque à recém-inaugurada Vila Operária de Gamboa, de Costa & Warchavchik. Na área de Urbanismo, é apresentado um anteprojeto de Nestor de Figueiredo para João Pessoa. De sua própria produção, Altberg publica apenas uma imagem de sua própria casa (sem menção à autoria) no bem humorado artigo “Futurista“ e um projeto de 1933/34, uma Colônia de Férias para o Sindicato de Trabalhadores do Livro e do Jornal na cidade de Vassouras. O desenho aqui mostrado é o único até agora localizado, e ilustra esquematicamente um conjunto de quatro pavilhões interligadas por passarelas. Dois pavilhões eram destinados a famílias, um a “solteiros“, cujos dormitórios são celas individuais de 8,12 m2 contendo armários e lavatório embutidos, e um último pavilhão comunitário abrigando refeitório com terraço, biblioteca, copa e cozinha, etc.
A primeira edição de base pôde ser publicada em agosto de 1933 graças ao apoio da empresa de Falk Altberg (Altberg Import-Export, distribuidores de artigos para fumantes, lapiseiras, etc), e seu financiamento foi complementado por anúncios de, por exemplo, algumas representações de empresas alemãs no Rio de Janeiro. Na segunda edição, de setembro de 1933, encontramos o anúncio de meia página da “Escola de Arte Lasar Segall“, contendo uma foto da fachada do atelier da Rua Afonso Celso em São Paulo, construído por Segall e Warchavchik, assim como anúncio empresarial da Família Klabin. Não somente as associações cariocas PRÓ-ARTE e AAB – Associação dos Artistas Brasileiros – também os grupos paulistas SPAM – Sociedade Pró-Arte Moderna, à qual Segall e Warchavchik eram ligados – e seu rival CAM – Clube dos Artistas Modernos, liderado por Flávio de Carvalho e Carlos da Silva Prado – dispõe-se à compra de exemplares que teoricamente garantiriam a continuidade da revista. Os pagamentos do SPAM e CAM não acontecem, e após novo esforço individual para publicar a terceira edição de base em outubro, que aparece como “número especial“ sobre propaganda e artes gráficas, Altberg é obrigado a declarar o fim da revista.
FONTE:
1. Alexander Altberg, As ideias da Bauhaus no Brasil. Goethe Institut Brasilien: http://abre.ai/Q8t
2. Vitruvius - Arquitextos. nº 058.00 / ano 05, mar. 2005. Alexander Altberg e a Arquitetura Nova no Rio de Janeiro. Pedro Moreira: http://abre.ai/Q8v

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